terça-feira, 12 de fevereiro de 2013


Em Tempo de Crise


Gastei dum merceeiro trinta dias;
Não paguei e fui para o vizinho.
A este fiz o mesmo; e, por tais vias,
Sem cão não deixei outro pelo caminho.

Gastei do Braz, do Mota e do Agostinho,
Da cidade corri às freguesias;
Vou nos arredores, já me avizinho
doutra cidade cá das cercanias

Tenho comido à borla. Isso explica-se…
Mas a questão agora é má. E complica-se…
Ninguém me quer fiar – estou aflito!

Porém, o mundo é grande; e estou a ver
que, seja como for, hei-de viver
nem que seja a cravar noutro Distrito.


                               *  RINDO
                         
                                  I. Carneiro de Sá - 1933