terça-feira, 8 de março de 2011

Mulher



Não sei se és a partida se o regresso
se um barco ao largo das águas de Veneza
o olhar de uma gaivota em alto apreço
à grandeza que tens porque és beleza

Não sei se és mulher se apenas musa
ainda não sei quem és quando adormeço
quando as palavras tomam forma lusa
num verso que me inspiras, que te ofereço.

Não sei se és um poema se uma ilha
se és proa de um navio ancorado
estrela que adormece quando quer.

Então caminho em direcção à quilha
e já perto do cais onde aportar
vejo finalmente que és mulher








sábado, 5 de março de 2011

É bom viver assim

Sou um homem feliz: digo o que quero e o que penso.
Faço uso da minha liberdade, com nota máxima de respeito.
Às vezes, insurjo-me contra os políticos e os poderosos,
sabendo que eles não gostam de me ouvir. E odeiam-me.
Mas, à pertinência, recebo o aplauso dos que estão comigo,
dos que são livres como eu, dos que têm a consciência tranquila.


sexta-feira, 4 de março de 2011

Murmúrio Leve

Era já tarde. Pela rua, um saco plástico rastejava levado pelo vento.
Cheirava mal - o saco plástico. Um homem irritava-se e murmurava.
Dizia qualquer coisa como falsidades, ganâncias e falcatruas.
insurgia-se contra as  políticas velhas destes políticos novos.
Destes que falam, falam... e de quem já nada  se pode esperar.
Só os endinheirados, os bem instalados e os cínicos aplaudem.
É ainda cedo. Pela rua, montes de feses de animais e palha seca.
Volta a cheirar mal. Todos cospem para a rua onda passa a procissão.
O homem cuspido na rua já nada diz. Já não murmura. Já não existe.