terça-feira, 21 de dezembro de 2010

    Natal de 2010





     












Álvaro de Oliveira deseja para os seus amigos e leitores
uma Festa Feliz e um Novo Ano com mais Justiça social,
mais Igualdade e mais Educação, assente na  razão de pensar
que em qualquer lugar Nasce um Menino de verdade que precisa
de leite, de pão, de roupa e de carinho. Para ser um Homem livre.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Coisas do Pai Natal



Na infância, na véspera de Natal, deixava-me arrastar por uma pertinente ansiedade, até que a noite caísse, para ver o fumo sair pelas chaminés das casas. E, só aí, adivinhando a lareira acesa, tinha a percepção exacta do Natal. Chegava a hora da ceia: um fio de azeite a cair sobre antigas melodias. Depois, as rabanadas e a aletria, os figos e o vinho fino. A noite, por essas horas, dobrava-se mais quente ao convívio familiar pelas conversas longas entre sorrisos e afectos, pelas estórias contadas à lareira. Era então que me falavam dessa mítica figura do pai Natal, um velho de barbas brancas e fato vermelho que diziam subir aos telhados e entrar pelas chaminés a distribuir brinquedos pelos meninos. Era injusto esse pai Natal: dava aos filhos dos mais ricos e esquecia os filhos dos mais pobres. Confesso que nunca gostei da sua enigmática imagem. Vim a descobrir, mais tarde, que tudo em seu redor era inventado, e a estória dos brinquedos a maior das mentiras. Afinal, esse pai Natal enquadra-se muito bem no mundo em que vivemos: as coisas, nestes dias de aparente festa, inventam-se, excedem-se, alargam-se na extravagância, oferecem um ar de pura hipocrisia. Nem outra época dava tanto gozo aos patrões (pais natais do mundo ganancioso) para obrigar os governos a rever as leis laborais: Mais horas de trabalho, menos salário, despedimentos sem indemnizações e muito mais de mau que se faz e não se diz.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

outro aroma


amanhã, rente à névoa da manhã,
morrerão todos os cretinos
que hoje te proíbem de escrever
sobre o lugar onde nasceste

amanhã cairão todos os gananciosos
e os donos da hipocrisia
mais refinada do planeta
onde uma gaivota canta sobre as águas.

amanhã, no primeiro sol da manhã,
será teu o vento que te vai às mãos
com o mel e o aroma de mil laranjeiras.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Tributo ao Zeca a Afonso


Sopra o vento pelas praias do mar
Mar de mar
O poema solta-se do cárcere em voo de gaivota
Zeca:
Viemos mais cinco
A música tem o gosto colado das Astúrias
Trouxe outro amigo também. E ainda outro e mais outro…
Viemos muitos mais
O Coro dos tribunais
E, às voltas, como um andarilho
Andamos ainda, vê bem, à procura de quem pintou
este maduro Maio
Ah, mas eu vou ser como a toupeira Fura Fura
Trilharei Portugal
Rasgarei Angola e Moçambique
E se um dia voltar a nascer que seja num moliceiro
Ao teu encontro

Como galinha-do-mato
No gosto verde dos campos
O cheiro rosado das amoras…
Sorvendo-te
Inalando-te
Eu, uma cachopa. Enamorada
Toda enamorada!
Descalça das minhas tamanquinhas, o vestido no regaço
É apenas um salto entre duas rias na barquinha d’Aladim
Entre terras e muralhas, noites e alvoradas, esta mulher lá do Minho
das sete que te fadaram.
Que seja mais um poema o filho da madrugada
O poema sobre quem ainda sopra o vento
do canavial
Solta-se o tempo!
As pétalas escrevem-te na pauta dos sentidos. Estás aí
No vento que foi
Entre o sol e a lua
E na Fuzeta a noite nua. Toda nua: Achega-te a mim

Sou a tua Maruxa.
Nas azenhas a serenata proibida. És tu
Em Vilar de Mouros.
No “Cantar de Emigração” de Rosalía de Castro
E o teu nome escrito. Em Santiago
Nas vilas morenas à espera de serem Grândolas
No vento que ainda não veio
Que se cale a cabra dos doutores na hora das baladas
e canções.
E não me obriguem vir para a rua gritar:
- Venham enlaçados de mãos dadas semear o amor –
Maçaroca, milho verde nas margens deste rio que é pai
Galiza pátria.


                                         Adelaide Graça
                                         Vigo (Verbum) 21/05/2009

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

até quando?

hoje não sei o que escrever. a tarde pesa-me nos ombros, foje-me dos pés e o caminho alonga-se ante o meu olhar. agora passa por mim a madrugada, sem que eu lhe dê a mão, sem que lhe dê uma palavra sobre os milhares de homens, mulheres e crianças sem abrigo que por dentro dela passam solitários ao frio e com fome. procuro escrever e logo risco a primeira letra. quero falar e logo me remeto ao silêncio. questiono e questiono-me: valerá a pena falar de quem nos rouba? chamar ladrão a quem governa? insultar os senhores do  BCE e do FMI? excomungar os donos dos  mercados que não dão a cara? e que mais de tão mau podemos esperar destes velhos trastes? os patrões avançam: «é preciso liberalizar os despedimentos sem indemnizações. contudo, não deixo  que a revolta morra na primeira hora. então, consigo, pelo menos, chamar-lhes canalhas. vou constituindo uma frase e, agora, apercebo-me que lhe posso dar substância. se calhar hão-de roubar-nos mais... se calhar vou inventar outro pejorativo para lhes colocar na testa. ladrão sabe-me a pouco. talvez pulhas, uns reles salteadores armados em intelectuais. até quando?