sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Quando Acordo

Acordo dum pesado sono Abro os olhos muito devagarinho e procuro concentrar-me numa réstia de luz que entra pela janela do quarto e lembro-me que sonhei Volto ao relógio São sete e meia As horas  andam apressadas neste despropósito que o tempo consome, e eu ainda sem saber qual o amanhã do meu país No entanto, sei que há milhares de portugueses com fome  Que há patrões cada vez mais ricos; que há operários cada vez mais pobres Que Bruxelas manda ou já não manda...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010


Desenho do Mestre
Jorge Ulisse


    Saltar ás Cavalitas


    estrelas revelam um hino
    à voz do luar
    e sobre um menino
    há um outro menino a saltar

    bolinhas de areia que tem
    ás cavalitas saltar
    e do chão há uma estrela que vem
    transportando o olhar

    é lambrando o menino que digo
    saltando uma infância cheia
    traz o sonho contigo
    nas bolinhas de areia




domingo, 10 de outubro de 2010

Guitarra Romântica


Guitarra do Mestre
Jorge Ulisses
por um halo de luz
a serenidade de um cravo
visita os acordes finíssimos 
da  guitarra

e as mãos na vertical
digitam como em lágrimas
os olhos que me enlouquecem
 rendidos à solidão da noite.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

sobre o teu busto




reparo no rosto do teu busto em homenagem à minha terra e ao meu povo. e a água ainda muito longe dos teus olhos castanhos, verdes, azuis, ou pretos. Talvez castanhos como os nossos. e o cabelo? qual é a verdadeira cor do teu cabelo. talvez preto... ou já branco como o nosso. nem o perdeste quando cretinos e pulhas, durante quase 50 anos, tomaram a república de assalto. aí caminhavas com o corpo atado à roupa, num andar sempre movido por uma música estranha e clandestina. então a  pena movia-se pela mão dos poetas quando o teu nome ardia enrolado na mortalha de um cigarro que um bufo qualquer acendia no umbigo da ditadura. sinto sede. e a água ainda longe dos teus olhos, vagos e cansados de esperar. e tu, uma manta enrolada no teu corpo enquanto a vida se refaz no intervalo  de uma dança, a toque de caixa. ou a toque de banqueiros gananciosos.

domingo, 3 de outubro de 2010

Destino Branco




a  folha de papel
é o destino branco
de indomáveis penas
onde sílabas indispostas ardem

ou o fogo dos símbolos
expostos numa aguarela
de indecifráveis sonhos

somos esse caminho
percorrido de vento
em que a tinta pela água se desfaz